Quem escreve assim é cidadã, não é professora, nem bibliotecária. Tem filhos que está a criar.
E é culta.
Essa é a diferença.
A boa diferença.
"Se calhar, a melhor maneira de garantir a sustentabilidade dos manuais gratuitos é... valorizar as bibliotecas. Todas."
TODAS, OUVIRAM? TODAS!
Mariana Avelãs2 h ·
Ainda os manuais | Nenhuma medida de partilha funciona se for accionada com base na vigilância. Porque assume que a partilha de bens comuns é uma aberração, e, se não for a coerção, algum tipo de individualismo inato nos leva a destruir o que é de todos.
Sou viciada em bibliotecas. Devolvo vários livros por semana. Ninguém verifica o estado em que os devolvo. Não tenho menos cuidado com eles por serem de nós todos -- antes pelo contrário. Mas existe um registo de que o livro esteve na minha posse, e se ele aparecer num tal estado que não pode estar na estante de uma biblioteca, até é possível detetar um padrão que indique que os livros que requisito tendem a ficar estragados. Na verdade, suponho que é mais económico, a todos os níveis, simplesmente assumir que alguns livros têm de ser substituídos de vez em quando.
Com os manuais é diferente? Sim, porque ficam na posse de quem os requisita durante 9 meses, e não 3 semanas. O que significa que têm de ser mais resistentes. Mas a maior parte do desgaste acentuado é causado por decisões das próprias escolas: 1. pontas gastas e capas soltas são a consequência de mochilas com quilos de manuais todos os dias. Até porque toda a gente diagnostica o problema que isso é per se, mas ninguém faz nada para resolvê-lo. Se os manuais ficarem em casa para estudo autónomo, ou ficarem na escola para serem usados nas aulas, isso já não acontece. Ganhávamos todos com isso. 2. Manuais rabiscados são a consequência natural de se achar que... podem ser apagados. E de professores que acham normal que se escreva em manuais. E de direções que, sabe-se lá porquê, exigem livros de 1.º ciclo devolvidos como se não tivessem sido usados no 1.º ciclo. Não é preciso verificar as páginas uma a uma no final do ano, basta garantir que não são danificados durante o ano. Ninguém inspeciona as cadeiras no fim de uma aula para ver se o aluno não colou lá pastilhas, pois não? Ninguém tem de provar que não instalou vírus num computador na biblioteca quando o usa, pois não?
Não faz sentido nenhum esta balbúrdia para pais, professores e escolas em torno dos manuais. Os livros deviam ser da escola, e geridos pela escola. Distribuídos aula a aula ou na primeira aula de cada disciplina, assumindo-se que o uso é civilizado, e devolvidos no final do ano nos mesmos moldes. Cabe à escola avaliar o estado do seu banco de livros e encomendar o que for preciso para mantê-lo eficaz. E ensinar que valorizar o que é de todos é bom para todos.
Se calhar, a melhor maneira de garantir a sustentabilidade dos manuais gratuitos é... valorizar as bibliotecas. Todas.
2019.06.29. Facebook. A partir de Portugal, União Europeia