PAULO SPRANGER/GLOBAL IMAGENS
"(...)
o professor reúne-os em grupos e diz: vamos aprender acidentes
geográficos, a ilha, a península. Aos 10 anos, eles já ouviram
estas palavras, já as viram muitas vezes. Dizemos: em grupo, vão
escrever uma ilha por palavras vossas, sem ir ver a lado nenhum. Uma
menina dizia - não sei explicar o que é uma montanha. E fazia um
gesto que ilustrava a ideia de montanha. Escreve isso. Uma coisa que
sobe. Uma coisa, não, terra. Terra que sobe. A certa altura estão
apaixonados, não se aborrecem, falam uns com os outros. Quando o
professor diz: vamos saber o que os livros dizem, os alunos já estão
a trabalhar mentalmente com a imaginação. É mais lento mas é mais
profundo."
(...)E
temos o Projeto Leitor, para promover a leitura livre. Como fazem
isso?
Este
Projeto Leitor é muito bonito. O que diz o currículo oficial é que
a escola deve promover o gosto pela leitura. Não é ler três livros
e fazer um teste. Como fazer? Dando-lhes mais liberdade e ampliando o
número de livros. Os alunos têm 100 livros, e têm de ir lendo. Há
alunos que leem 10, 12, 14. Outros leem quatro ou cinco, é o mínimo
por ano. Num ambiente digital, os alunos partilham o que leem.
Escrevem: li isto, gostei por isto ou aquilo, e isso é partilhado
entre três colégios. Temos alunos de um colégio que influem muito
nos alunos de outro. Todos os alunos têm de ir escrevendo sobre o
que leem. Como o professor não dedica tanto tempo a explicar, o
que faz é observar e ler o que eles escrevem. Um professor
consegue sempre intuir - estás a copiar tudo, tudo o que escreveste
foi copiado, porque eu conheço-te e sei que isto não tem nada a ver
contigo. Tem tempo para lhe dizer - vamos lá... Ou tem tempo para
dizer a um companheiro - vamos tentar que fulano leia mais. O
resultado que observamos é que os alunos leem, uns na sala de aula,
outros no chão, outros no sofá, outros no salão. E leem. Não há
disciplina para ler, não estão todos sentados. Os alunos vão lendo
e escrevendo e os professores não fazem exames sobre os livros,
fazem debates. Vamos falar sobre este livro. Ou sobre este
quadro. E fazem debates.
Como
avaliam essa evolução?
Primeiro,
observamos quantos livros leem. E depois quando terminam as férias e
regressamos à escola, fazemos uma espécie de focus group: quantos
livros leram no verão? No verão não é obrigatório. Eu, nenhum.
Eu, dois. Eu, quatro. Ao fim de três anos, saberemos se há alguma
relação entre o que fazemos e o que leem no verão. Se lerem mais é
porque gostam de ler. É uma aposta de longo prazo.
Entrevista a Pepe Menéndez, diretor adjunto da Fundació Jesuïtes Educació,
Catalunha, 2016
"O problema do ensino é que é muito aborrecido. Nós mudámos o olhar" - Portugal - DN