sábado, 11 de abril de 2020

E de repente, +literacia tem de ser em casa, sobretudo em casa



Há 11 anos, apenas, concluíam-se, neste estudo da DataAngel (2009), algumas implicações para o Plano Nacional de Leitura, considerado "desesperadamente necessário" em Portugal. Valeria a pena revisitá-las, agora que todos sentimos que a economia em geral terá de se readaptar, e que os recursos de literacia não apenas das crianças e dos jovens, mas também das famílias e dos decisores das empresas, com mais ou menos teletrabalho, são decisivos. Já são, já eram, e ainda mais o serão no futuro.
E é em casa de cada família confinada que se joga muito do futuro dos jovens nestes meses, com melhor ou pior acesso a orientações da escola ou a programas de televisão...


"As análises do impacto da literacia no desempenho económico de Portugal durante os últimos 50 anos deixam poucas dúvidas de que o país pagou um preço significativo por não ter aumentado a oferta de competências de literacia ao dispor da economia. A estimativa do PIB per capita perdido representa uma enorme redução nos padrões de vida para a grande maioria dos cidadãos portugueses.Para corrigir esta situação, será necessário um esforço concertado e coordenado, que: associe políticas educativas, sociais e económicas de uma forma que aumente a oferta das competências de literacia à saída do sistema escolar; reduza o número de adultos com baixas competências através da disponibilização de formação de qualificação; intensifique as necessidades de conhecimentos e de competências para o emprego, bem como a aplicação da literacia no trabalho; melhore a eficiência dos mercados que atribuem competências de literacia; aumente a procura social e económica para a aquisição e a utilização das competências de literacia.Se não empreender esta acção concertada e coordenada, o país terá inevitavelmente taxas de crescimento económico e padrões de vida abaixo do seu potencial. Nesse caso, as indústrias portuguesas vão ter cada vez mais dificuldades em competir com os seus concorrentes europeus e de outros países estrangeiros. O desemprego vai aumentar, os salários e os benefícios vão diminuir e a desigualdade social nas questões que os portugueses mais valorizam – saúde, riqueza e sentido de pertença – vai aumentar. Economicamente, o que está em causa para Portugal é muito importante. Em 2000, o PIB per capita português situava-se em 16 034 dólares, um nível inferior, num total de 8 320 dólares, à média de 15 países seus homólogos na área da OCDE. O dinheiro pode não comprar a felicidade, mas este montante de rendimentos perdidos proporcionaria um enorme aumento dos padrões de vida usufruídos pela maioria dos cidadãos de Portugal. A literacia é a chave para desbloquear esses benefícios." (p. 121) "Os dados apresentados [...] deixam poucas dúvidas de que um programa como o Plano Nacional de Leitura é desesperadamente necessário em Portugal. As coortes recentes de jovens saídos do sistema de ensino básico apresentam dos níveis médios mais baixos de competências de literacia e das percentagens mais elevadas de níveis mais baixos de competências de todos os países europeus. Na ausência de uma intervenção significativa, a quantidade e a qualidade das competências desenvolvidas pelo sistema de ensino básico português terão pouco impacto na oferta geral de competências ao dispor do sistema de ensino superior e do mercado de trabalho.Sem um aumento nos valores de literacia, os retornos do investimento no ensino superior serão inferiores ao esperado e as taxas de crescimento da produtividade serão limitadas. Em consequência, a capacidade de Portugal para competir nos mercados europeus e globais será diminuída. Por conseguinte, o presente relatório apoia claramente o Plano Nacional de Leitura e os seus objectivos de melhorar os comportamentos de literacia da leitura no pré-escolar e entre as crianças e os jovens no ensino básico e, a longo prazo, aumentar a procura social de leitura.Não obstante este apoio geral, as conclusões sugerem uma necessidade de melhorar vários aspectos do plano actual.Em primeiro lugar, as iniciativas visam primordialmente aumentar a procura social de competências de literacia e as oportunidades de participação dos alunos em práticas de literacia. Embora sejam necessárias, estas medidas podem não ser suficientes para precipitar as melhorias gerais pretendidas nas competências de literacia. Portugal já lançou um programa nacional para promover as competências pedagógicas dos professores de línguas nas escolas do ensino básico. Este programa pode ser ainda mais reforçado se for possível melhorar as capacidades de diagnóstico e a prática pedagógica dos professores no que respeita à literacia. É também provável que os professores do ensino básico necessitem de aceder a um conjunto mais amplo de instrumentos para a avaliação e o diagnóstico precoces de dificuldades de leitura e a estratégias de intervenção conexas para lidar com as deficiências identificadas. Sem medidas como estas, a procura crescente de leitura pode não se traduzir numa maior oferta.Os dados disponíveis nos estudos PIRLS e PISA fornecem indicações fortes de que muitos professores do ensino básico em Portugal não possuem a competência requerida para ensinar crianças a ler em níveis crescentes de aptidão. Para que as reformas educativas já iniciadas sejam bem-sucedidas, os professores têm de participar activamente e apoiar os processos de reformas em que o país está empenhado.Em segundo lugar, os objectivos fixados em matéria de quantidade de horas a dedicar à leitura na educação pré-escolar e nos primeiros anos de escolaridade está abaixo do que a bibliografia científica sugere ser necessário para reduzir desigualdades na preparação para aprender em turmas de crianças de diferentes grupos sociais e para assegurar que todas as crianças estejam prontas para fazerem com êxito a transição de “aprender a ler” para “ler para aprender” até ao 4.º ano. O alargamento das oportunidades para aprender ao longo do dia e o aumento do tempo dedicado a tarefas de leitura são, pois, considerações importantes.Em terceiro lugar, e porventura mais importante, existe falta de investimento complementar para o aumento do nível da procura económica de literacia e, consequentemente, da intensidade na participação em literacia no local de trabalho. Como se referiu no Capítulo 4, a fraca exigência em conhecimentos e em competências do mercado de trabalho português é baixa, numa perspectiva comparativa. Além disso, o mercado de trabalho português não parece recompensar as competências de literacia na medida esperada. Face a esta realidade, os alunos portugueses, com excepção dos melhores, têm poucos incentivos para investirem tempo e esforço no aumento do seu nível de literacia.Em quarto lugar, não é certo que o aumento da procura social de competências de literacia e da participação dos alunos em práticas de literacia tenha o impacto desejado nas crianças em idade escolar que deixaram o sistema de educação inicial. Portugal tem das taxas mais baixas de persistência para a conclusão do ensino secundário, o que limita a eficácia das intervenções realizadas na Escola junto destes alunos. Os dados comparativos internacionais sugerem que a conclusão do ensino secundário superior é um indicador crítico, que maximiza a probabilidade de os estudantes atingirem o nível 3 das escalas de aptidão. O nível 3 foi considerado o nível necessário para sustentar a participação no ensino superior, a aprendizagem ao longo da vida, a produtividade do trabalho e a participação democrática. Assim, as reformas ambiciosas já lançadas com vista a reduzir ainda mais as taxas de abandono escolar vão proporcionar aos educadores mais oportunidades para influenciarem os níveis de leitura das crianças.Finalmente, se não forem investidos mais recursos na prestação de uma instrução eficiente e eficaz em matéria de literacia para adultos, particularmente no local de trabalho, mas também através dos programas Novas Oportunidades, é de esperar que diminua a eficácia geral do Plano Nacional de Leitura. As crianças que vivem em agregados familiares caracterizados por baixos níveis de escolaridade dos pais e pouca prática de leitura, em que o acesso a um amplo conjunto de materiais de literacia é limitado, serão menos receptivas aos incentivos criados pelo Plano. Um maior enfoque em programas de literacia dirigidos às famílias tem o potencial de melhorar, em simultâneo, os níveis das competências de literacia de ambas as gerações.Para concluir, acreditamos que as ambiciosas reformas educativas em curso em Portugal são profundamente necessárias. Em particular, o Plano Nacional de Leitura deve, progressivamente, aumentar tanto a procura social de leitura como a utilização de competências de literacia no mercado de trabalho. Sem um plano desse tipo, Portugal terá grandes problemas em manter a sua competitividade nos mercados europeu e mundial e terá cada vez mais dificuldades em atrair investimento directo estrangeiro.Se a nossa análise estiver correcta, se Portugal não obtiver um aumento rápido e substantivo no nível de literacia funcional de toda a sua população, o país terá dificuldades em realizar os seus objectivos económicos e sociais, e só transferências maciças da União Europeia evitarão um declínio relativo do seu nível de vida." p. 121-124

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Recursos educativos digitais. 2020 Webinar nº 2 Carlos Pinheiro





2.º Encontro Digital terá como tema «Tirar o máximo partido de recursos digitais.
Como selecionar e como criar recursos digitais relevantes?
» e decorrerá amanhã, 8 de abril às 15h00 (duração de 45 min), com o seguinte programa:
  • Características de um Recurso Educativo Digital (RED)
  • Como selecionar e criar recursos para ensino online
  • Recursos educativos em português – plataformas e recursos livres
  • Ferramentas para criar apresentações, questionários, vídeos interativos, podcasts entre outros recursos.

Educação a distância. Webinar 2020 Carlos Pinheiro






Carlos Pinheiro.

Webinar nº 1 Leya, 7.4.2020

Recomendado